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Sobreviver dói

Morrer dói?
“A barra do amor é que ele é meio ermo
A barra da morte é que ela não tem meio termo” (1)
Essa pergunta não poderemos responder até que provemos a nossa própria morte. Mas, com certeza, quando atinge um dos nossos podemos dizer que sobreviver dói, o que será tanto mais intenso quanto maior o relacionamento afetivo, o que bem é explícito na frase: “A morte estabelece um exílio em relação às pessoas que se ama e que carregam consigo sonhos e esperanças” (2)
No nosso poder de conhecimento só podemos considerar a dor e o sofrimento pelos quais passam os que ficam.
Imaginemos esse nos pais que sobrevivem a um filho!
O momento da morte do outro nos faz repensar a própria vida, nossos valores. Traz-nos também o medo de que ocorra com aqueles que nos são caros.
Não temos respostas para a morte, ainda mais quando ocorre a um jovem ou a uma criança, principalmente quando inesperadamente. Não sabemos porque se manifesta em diferentes nuances. Também desconhecemos o que verdadeiramente sente o enlutado – até achamos que sabemos, mas não chegamos sequer perto de entender o mínimo, pois isso só o coração individual, baseado na relação afetiva do indivíduo com o falecido que pode saber.
O que fazer então, diante de um enlutado? Não há uma fórmula mágica. O silêncio participativo pode ser mais proveitoso que muitas palavras. Não tentar adivinhar a dor do outro é um grande passo para ajudar o enlutado que viverá a sua dor e o seu tempo de luto de acordo com suas características e potencialidades individuais.
Não há um tempo cronológico para o processo de luto acabar e esse pode nem mesmo terminar. Há que se saber que no luto não há o que se tratar, há que se estar junto.
Deixar chorar, dizer que chore o quanto for preciso, aceitar a revolta contra tudo e todos, inclusive contra Deus, compreender a necessidade dos momentos de isolamento e solidão que o indivíduo se impõe são passos fundamentais para compartilharmos essa fase que para o enlutado bem poderia ser expressa por essa frase: “Quem me dera encontrar o verso puro, o verso altivo e forte, estranho e duro que dissesse a chorar isto que sinto” (3)
Ser presente, respeitando o tempo do enlutado, e inclusive sua repulsa a essa presença, sempre com um ombro e um ouvido amigo quando se fizer necessário é o ideal, lembrando sempre que quando morre um dos nossos, sobreviver dói.
(1) Da música Meio termo de Lourenço Baeta/Cacaso, cantada por Elis Regina
(2) citação de Luiz Carlos Zeferino no prefácio do Livro Reflexões sobre a vida e a morte – abordagem interdisciplinar do paciente terminal
(3) Verso da poetisa portuguesa Florbela Espanca

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